22/10/2024

Blogtober dia 15 - o fogo de 2017 no pinhal do rei e dicas para dias sem eletricidade




15 de Outubro de 2017 (desabafo e dicas)

As notícias chamaram o pior dia do ano de 2017 por causa de tantos fogos.
Hora de almoço e estava imenso vento quente, no restaurante em Buarcos. Pelas 14h via se ao fundo, a costa com fumo... ao final da tarde caia folhas carbonizadas vindas do fogo em Quiaios, do outro lado. 
Quando fui para casa às 20h vi a serra do Paião arder da ponte da Figueira da Foz, imagem que me deixou aterrorizada. 
Cheguei a casa e contei aos meus pais o que vira. Ainda lá fomos ver, preocupados com a minha tia que ali vivia ao pé do Paião.
E estava mesmo ali ao pé no Copeiro uma ignição... e não havia bombeiros... 
O meu pai ainda foi ajudar mas de nada serviu, acabamos por ir embora.
Passamos por cima da ponte da autoestrada... estava o fogo a passar de um lado para o outro em baixo. E os carros continuavam a circular na autoestrada no meio daquele inferno...
Quando chegamos a casa exaustos daquele stresse, fomos comer qualquer coisa pois era quase meia noite.. Lembrei me de ligar o facebook e alguém dizer, há poucos minutos, que tava fogo no Osso da Baleia. Corri até ao terraço para tentar ver alguma coisa, e a única coisa que vi, foi um farol azul no meio dos pinhais a desaparecer.
Desci para contar ao meu pai que já estava para ir tomar banho e ir para a cama, que naquilo ficou preocupado e foi ligar o motor do poço para puxar água. 
Começamos a ouvir algo no telhado, parecia chuva... e muita gente que já estava na cama pensou: ´abençoada chuva que há tanto incendio hoje'. Mas não... era  chuva de carrascas do fogo que já estava lá também ao pé de nós. 
Eu e a minha mãe corremos pela rua fora para tentar perceber para onde tinha ido o tal pirilampo azul que eu tinha visto. 
Entretanto as pessoas aperceberam se que andava alguém na rua e saíram para ver o que se passava. 
Era meia noite e tal, falhou a luz... foi quando vimos o céu vermelho.. e poucos minutos começou o pânico... A aldeia vizinha a ser evacuada. Carros e camiões a passar como nunca tinha visto, nem num casamento.
Ainda fui com a minha amiga buscar um tio dela que vivia no meio dos pinhais, e tivemos tanto medo pois ouvia se a madeira a estalar. Minha mãe não queria deixar me ir mas eu não queria deixar a minha amiga ir sozinha.
Não tardou a policia que era da zona de Leiria, a pedir para fecharmos a casa e colocar-mos toalhas húmidas nas portas para também evacuar-mos. 
O meu pai pôs os chuveiros a regar no quintal e com o tanque de sulfatar no trator com água, começou a regar tudo pois o fumo já começava a sentir-se.
A minha mãe distribuía máscaras que o meu pai usava nas obras pelas pessoas que ali estavam à frente de nossa casa. 
Foi a primeira vez que usei máscara sem imaginar que passado alguns anos seriamos obrigados a usar todos dias durante alguns anos.
O meu irmão que estava em casa da namorada veio ter connosco para ajudar, e começamos a levar os carros e carrinhas das obras para casa duma tia mais à frente. 
Depois de deixar o meu carro na minha tia, vim a correr pela rua fora no meio do fumo, com uma adrenalina enorme que nunca me deu dor de burro, nem falta de ar. 
Andava as ambulância a retirar os idosos de casa. 
Quando avistei a minha casa, já estava do outro lado arder. Coisa horrenda que ainda tenho nos meus olhos até hoje. Umas labaredas enormes numa terra que estava lavrada, e só tinha algumas pequenas ervas. 
Uma vizinha da outra rua, pedia me para ligar para os bombeiros e ninguém nos atendia. Era uma aflição enorme que não tem explicação. 
O sr policia já não me deixava voltar para casa porque tinha que passar ao lado das labaredas, mas eu expliquei que estavam à minha espera para tirar os carros de casa. 
Com insistência lá me deixou ir, mas... nunca tive tanto medo, o calor era horrível, as chamas mais altas que eu... pensei que morreria neste dia.
A minha mãe estava em pânico apagar as carrascas que vinham pelo ar arder, o meu irmão já chorava a ver aquilo tudo arder a mandar nos embora, e o meu pai enchia o tanque de sulfatar com água.
Fui a ultima a sair de casa depois da minha mãe. 
A minha mãe saiu num carro e eu ainda fui soltar a cadela do canil para ela se salvar e agarrei na pinscher enfiando-a no carro.
 Olhei para as nossas carteiras, levando-as e ainda agarrei os nosso computadores portáteis que estavam em cima da mesa. Foi so o que levei, era o que estava à mão naquele momento. 
O gato estava a dormir no sofá, deixei-o ficar para não ir para a rua, a gata já não a via à horas, coitado do animal, sofreu as consequências deste dia horrível, perdendo a vida dentro do poço a fugir das chamas. 
Quando sai de casa, não se via nada, era fumo muito denso, mas o policia veio com luz guiar me para a estrada.  
Nessa altura, quando sai de casa, estava o meu pai e o meu irmão a tentar apagar aquelas chamas, ficando para trás. 
Os policias não os obrigaram a sair, pois estava a tentar controlar o fogo... não havia bombeiros...  
Pelo caminho vi muitos carros parados mais afrente um pouco depois da minha casa, eram da aldeia vizinha que tinha sido evacuada, onde já lavrava o fogo. Fui ter com a minha mãe a casa da minha tia onde viemos levar os carros. 
Mas fazia tantos remoinhos de vento com carrascas a arder que fugimos novamente dali, e fomos para onde a policia ordenou. 
Chorei o caminho todo até à associação do Carriço, que é a nossa freguesia, onde risquei a minha jante da roda num passeio de tão desorientada que estava. Estava lá imensa gente, mas eu não queria ali ficar no meio de tanta gente, estacionei mais afrente, e ali fiquei com a minha cadela. Vieram dar nos sandes, que possivelmente eram da padaria lá ao lado e agua. Sempre preocupada com o meu irmão e com o meu pai que lá ficaram, mas por incrível que pareça, tiveram sempre rede naquela noite, consegui sempre falar com eles... nós não temos muita rede naquela zona mas nisso a proteção civil nao falhou como em Pedrogão Grande.. houve sempre comunicação com o meu pai e até parece que o telemóvel teve bateria vitalícia.
 Antes de sair de casa com os carros, mandei mensagem ao meu namorado que ja dormia em casa dele, a despedir me, pois pensei que ia morrer ao ver aquelas chamas horrendas.
Eram quase 3 da manhã permaneci no carro com a minha cadela, a ver as publicações no facebook de outras zonas a pedirem socorro, quando vi os primeiros camiões de bombeiros vindos do Alentejo! 
Ás 6 da manhã tentamos voltar para casa alegando que era-mos da Silveirinha e não da Fontinha para nos deixarem passar, pois sabia-mos que não nos deixariam passar para ir-mos para a Fontinha onde esteve o fogo, na nossa terra, a volta de nossa casa. O dia já estava a ficar claro e era uma fumaça enorme pelo ar.  
O meu irmão estava já a descansar no sofá completamente rouco, e o meu pai por lá andava acudir a quem precisava. E assim esteve todo dia. Tivemos mais de 24 horas acordados. E durante toda a semana houve reacendimentos.
É um dia que nunca mais iremos esquecer.. 
Ainda sonho algumas noites com fogo.. é uma sensação que não tem explicação de tão horrível que é ao ponto de pensarmos que vamos morrer. Só quem passa por isto é que sabe o que é o inferno. 
Quando vejo fumo perto de mim ou ouço bombeiros, entro em pânico. 
Mas naquela noite tive sangue frio. Tive uma semana sem luz, como ja tinha estado em 2013 quando ouve uma tempestade tropical que atingiu Leiria. Depois no ano seguinte, caiu nos o Leslie em cima, que derrubou os poucos pinheiros que não arderam no fogo, e mais uma vez ficamos uma semana sem luz. 




É como voltar aos tempos antigos, luz das velas que convém já terem guardados para estas situações. Esgotou no primeiro temporal em 2013 as velas e tudo que era para dar luz a pilhas nos supermercados daqui da zona.. para não falar que foi um negocio para a venda de geradores. 
Hoje em dia vejo as coisas duma maneira que muita gente não vê,  por ter passado por estas situações. 
De momento estou a construir casa e quero um fogão a gás. Agora tudo é moderno e elétrico. Mas eu quero o tradicional, primeiro, porque gosto de cozinhar com chama, apesar de ser mais fácil limpar uma placa, prefiro o fogão a gás. E as pessoas ficam incrédulas de eu preferir ter mais trabalho a limpar os bicos. 
A explicação que dou as pessoas, até é uma pergunta. Se falhar a luz, cozinhas a onde quando tens tudo elétrico? 
Então tenho uma churrasqueira com forno a lenha e um fogão com botija de gás. Falta ter uma mão cheia de velas. E para entretenimento em caso de falta de luz uns puzzles e tricot para ocupar o tempo como fizemos no fogo, e nos temporais. A não ser que tenham algo para carregar a bateria do telemovel e assim passar tempo no facebook. Mas mais vale poupar a bateria do telemovel para coisas urgentes. Nunca se sabe o dia de amanhã. 
Posso parecer paranoica mas depois de 3 vezes, uma semana sem luz, eu acho que sou é esperta ao pensar desta maneira. Só falta ter stock de comer enlatado, mas isso era p casa de uma guerra ou final do mundo.
Se ficar muitos dias sem luz, opte por evitar de abrir arcas e frigoríficos o mínimo possível para nao perder o frio rapidamente, preservando os alimentos. E claro, opte por consumir o k s estraga mais depressa.
Aqui fica um grande desabafo e conselhos para dias escuros na nossa vida.

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